- Área: 150 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Shinkenchiku Sha
Descrição enviada pela equipe de projeto. Um programa de projeto muito bem elaborado nem sempre é um bom sinal. Edifícios projetados apenas como uma resposta às reais demandas de seus clientes podem ser demasiado concretos, ou melhor, limitados demais. Acreditamos que, para projetar o espaço, é preciso explorar um mundo que vai muito além das simples demandas do cliente, que obviamente sabe o que é melhor para si mais que talvez, nunca tenha tido a oportunidade de experimentar a arquitetura de outra forma.
Formas simples e geométricas, paredes retas e ângulos de noventa graus. Espaços criados pelo homem e para o homem. O ser humano está acostumado - se não condicionado - à edifícios de formas puras e seus espaços estéreis, geralmente associados à praticidade e flexibilidade, espaços os quais as pessoas podem ocupar com total autonomia e liberdade. No entanto, quando inserimos movimento em um planta tipicamente moderna, girando levemente seus cantos por exemplo, a nossa percepção do espaço muda completamente, como se ele tivesse se desdobrado, expandido a nossa experiência e a maneira como nos relacionamos com ele.
O projeto da Casa em Hokusetsu foi desenvolvido para uma família que desejava desfrutar das surpresas diárias da vida que surgem com o convívio entre as pessoas. Ao invés de dividir a casa entre áreas íntimas e sociais, optamos por embaralhar estes espaços, criando uma série de volumes que se atravessam de forma a criar um único espaço continuo, onde a hierarquia entre eles funciona de uma maneira completamente nova e experimental. O projeto se organiza a partir de doze volumes quadrados de 2895 milímetros de lado. Havíamos percebido o potencial dessa modulação em estudos realizados anteriormente. À medida que giramos estas doze peças, gradualmente vamos criando uma série de outros espaços vazios entre elas, transformando doze em dezoito. A partir disso, adaptamos à forma básica para melhor adaptá-la ao terreno, criando um padrão dinâmico onde todos os ângulos são diferentes. As principais funções, aquelas solicitadas pelo cliente, foram principalmente colocadas dentro dos doze quadrados originais, e fora deles, nos espaços criados entre uma parte do programa e outra, deixamos espaços vazios, sem uso definido para surpreendê-los a medida que se deslocam e ocupam os espaços da casa.
A pesar de sua porosidade interior, o edifício permanece relativamente protegido do entorno imediato como o cliente havia solicitado inicialmente. Além de três áreas de jardim no exterior, esta estratégia nos permitiu criar outros dois pátios no interior da casa. Como resultado destes deslocamentos e vazios, os espaços internos da casa passaram a ser iluminados não apenas por suas fachadas externas, mas pelas internas também. Como nossos clientes passam boa parte do tempo dentro de casa, esta organização espacial estimula muito mais a convivência entre as pessoas, criando um ambiente mais dinâmico e vibrante.
A estrutura foi construída em madeira, com pilares em cada encontro de paredes da casa, criando uma estrutura bastante simples apesar de sua forma aparentemente complexa. Girando as suas peças e inserindo novos espaços entre elas, criamos uma nova dimensão de flexibilidade: espaços não programáticos que podem ser utilizados de maneiras completamente distintas e pouco usuais. Desta maneira, projetamos uma casa que atende aos requisitos do cliente mas que ao mesmo tempo proporciona uma série de espaços autônomos que podem transformar-se ao longo do tempo para acomodar as mudanças no estilo de vida de seus habitantes; é como um labirinto cristalino, onde é preciso primeiro perder-se para então, voltar a encontra-se consigo mesmo.